“O médico está bancando o sistema de saúde em Campos”, diz presidente do sindicato
Jhonattan Reis
Foto: Genilson Pessanha
Foto: Genilson Pessanha
“O médico está bancando o sistema de saúde em Campos”, afirmou, nesta quarta-feira (8), o presidente do Sindicato dos Médicos, José Roberto Crespo, em entrevista coletiva realizada no auditório Lenício de Almeida Cordeiro, na Faculdade de Medicina de Campos (FMC), para abordar a situação da Saúde na cidade. Em estado de greve decretado em assembleia na noite anterior, os profissionais pretendem um acordo com a Prefeitura de Campos para evitar uma paralisação. Na coletiva, que começou por volta das 12h, além de José Roberto, estiveram presentes o vice-presidente do sindicato, Ezil Reis, a médica Lígia Muylaert e o clínico geral Reinaldo Tavares. O presidente do sindicato ainda afirmou que muitos profissionais estariam há quase um ano sem receber salários e que os médicos não estariam sendo priorizados pelo município.
— Eu, por exemplo, estou com salários atrasados desde novembro de 2014. Efetivamente o médico está bancando o sistema de saúde de Campos. Essa é a grande realidade. O médico acaba usando suas amizades para atender um paciente A ou B, então quem está bancando o sistema é o doutor com suas relações interpessoais. A situação é grave, pois os hospitais estão em crise e não estão repassando os recursos para os médicos. Isso está gerando uma insatisfação grande desses profissionais. Eles não estão motivados a trabalhar e vão acabar começando a abandonar seus postos de trabalho, como muitos já fizeram, o que vai gerar uma dificuldade grande no sistema. Muitos profissionais não querem mais trabalhar nesse regime de prestação de serviços. Este gera insegurança para esse profissional, que trabalha somente pelo que atende e, como está há meses sem receber salários, acaba abandonando o sistema — disse José.
O presidente do sindicato ainda afirmou: “O médico é o último a ser pago. O hospital, quando recebe dinheiro do sistema de saúde, paga seus fornecedores, funcionários, alimentação, seus consumos, mas esquece dos médicos. Esquece um mês de salários dos médicos, dois, três, quatro... Só que quem produz o serviço para pagar todos os funcionários é o doutor que está trabalhando e que não está sendo pago”, falou José Roberto, que ainda indicou que o sindicato busca uma forma de resolver o problema com o município. “O poder público, que conhece bem essa sistemática, tem que dar um salto de qualidade na cidade. Os gestores têm que colocar a saúde como prioridade e pagar os profissionais que efetivamente trabalham, que são os médicos, profissionais que dão assistência à população”, acrescentou.
08/07/2015 14:43
Um comentário:
O artigo é interessante. Mas é restrito. Na verdade, há uma cultura do hospital e da especialidade. O hospitalocentrismo, associado com a indústria do diagnóstico e dos especialistas, mataram a saúde pública brasileira, já debilitada por anos e anos de subfinanciamento, enquanto mídia e alguns médicos proclamam que o problema é a "má gestão" ou a "corrupção".
Então fica a pergunta: como empresas de saúde (planos e seguros) com verbas 10, 15 vezes maiores per capita/paciente, e que restringem ao máximo os atendimentos de urgência/emergência, e os de alta e média complexidade, pagam tão pouco aos médicos filiados e ainda assim quebram?
A questão da saúde é, em linhas gerais leigas:
No campo da formação e mão-de-obra:
Formar mais médicos, para quebrar o monopólio;
Formar generalistas;
No campo do financiamento:
Decuplicar os gastos per capita do SUS;
Diminuir gradativamente a privatização branca do SUS com a diminuição das deduções do IRPF que a clsse média usa para ter exclusividade;
Fazer valer a lei que obriga planos de saúde a pagar os atendimentos dos seus clientes na rede pública.
No campo da normatização:
Médico, juiz, promotor, policial, professor são carreiras de Estado. Quem serve a deus não pode servir ao diabo, logo, médico que optar pelo setor público deve ganhar a contento, mas não pode estar vinculado a iniciativa privada ou outro vínculo para evitar o conflito de interesses óbvio, uma das fontes da corrosão dos sistemas públicos.
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