Análise do Conselho Federal de
Medicina aponta queda acentuada de leitos do SUS desde 2010
Ter, 03 de Setembro de 2013 12:10
Pacientes são internados em
corredores. Quase 13 mil leitos foram desativados na rede pública de saúde desde
janeiro de 2010. Naquele mês, o Sistema Único de Saúde (SUS) contava com 361
mil leitos, número que, em julho deste ano, caiu para 348.303. As informações
foram apuradas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) junto ao Cadastro
Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), do Ministério da Saúde. O período
escolhido levou em conta informação do próprio governo de que os números
anteriores a 2010 poderiam não estar atualizados.
Para o presidente do CFM, Roberto
Luiz d’Ávila, os dados revelam, de forma contraditória, o favorecimento da
esfera privada em detrimento da pública na prestação da assistência à saúde.
“Estes números são apenas uns dos desdobramentos do subfinanciamento público no
Brasil, principal responsável pelas dificuldades do SUS. Convocar mais médicos
e oferecer menos leitos me parece uma contradição. Isso é jogar sob a
responsabilidade dos médicos esse cenário de abandono do sistema público de
saúde”.
As especialidades mais atingidas
com o corte foram a psiquiatria (-7.449 leitos), pediatria (-5.992), a obstetrícia (-3.431) e cirurgia geral (-340). Em números
absolutos, os estados das regiões Sudeste e Nordeste foram os que mais sofreram
redução no período. Só no Rio de Janeiro, por exemplo, 4.621 leitos foram
desativados desde 2010. Na sequência, aparece Minas Gerais (-1.443 leitos) e
São Paulo (-1.315). No Nordeste, foi no Maranhão o maior corte (-1.181). Entre
as capitais, foram os fluminenses os que mais perderam leitos na rede pública
(-1.113), seguidos pelos fortalezenses (-467) e curitibanos (-325). Clique aqui
para conferir as tabelas de distribuição de leitos por Unidade da Federação de
leitos por e a disposição por capitais.
Na outra ponta, apenas nove
estados apresentaram números positivos no cálculo final de leitos ativados e
desativados nos últimos dois anos e meio: Rondônia (629), Rio Grande do Sul
(351), Espírito Santo (239), Santa Catarina (205), Mato Grosso (146), Distrito
Federal (123), Amapá (93), Roraima (24) e Tocantins (9). Nas capitais, 14 delas
conseguiram elevar a taxa de leitos, o que sugere que o grande impacto de queda
recaiu sobre as demais cidades metropolitanas ou do interior dos estados.
Menos 26 mil leitos no SUS desde
2005 – No ano passado, o CFM fez um levantamento semelhante nos recursos
físicos disponíveis no SUS e identificou que 42 mil leitos haviam sido
desativados entre outubro de 2005 e junho de 2012. Após a denúncia, o
Ministério da Saúde justificou que a queda de leitos representa uma tendência
mundial devido aos avanços em equipamentos e medicamentos que possibilitam o
tratamento sem necessidade de internação do paciente. Em seguida, no entanto,
chegou a tirar o banco de dados do ar (disponível em http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=0204&id=11663),
alegando que o sistema passava por atualização.
Meses depois a consulta aos recursos físicos
foi restaurada. Com a “atualização” da queda, a base CNES revelou uma queda
menor: 26.404 leitos desativados entre outubro de 2005 e julho de 2013. A
partir dos novos números, é possível observar que a quantidade de leitos
desativados nos últimos três anos e meio (2010 a julho de 2013) representa 48%
do total de leitos fechados nos últimos oito anos.
Segundo nota explicativa do
Ministério da Saúde, as informações relativas aos leitos complementares
(Unidades de Terapia Intensiva e Unidades Intermediárias), “compreendidas entre
agosto/2005 a junho/2007, estavam publicadas de forma equivocada, contabilizando
em duplicidade os quantitativos desses tipos de leitos”. A partir de outubro de
2012, no entanto, foram corrigidas as duplicidades identificadas nos totais dos
leitos complementares.
Procuradora-Geral da República e diretoria do
CFM. MPF recebe relatório - O levantamento foi o primeiro desdobramento do acordo
de cooperação técnica formalizado entre o Ministério Público Federal (MPF) e o
CFM para garantir acesso à saúde de qualidade da população. O documento foi
entregue à procuradora-geral da República, Helenita Acioli, em cerimônia
realizada nesta terça-feira, na sede do Conselho, em Brasília (DF).
O CFM propôs ao MPF a criação de
um grupo de trabalho para responder questionamentos sobre a suficiência da
quantidade de leitos no atendimento, os reais motivos para essa redução de
leitos, o custo médio para manter ativado um leito, a justificativa para a
redução, entre outras questões. Para o presidente Roberto Luiz d´Avila, esse é
um momento histórico. “Há muito trabalho a ser feito e o CFM se sente honrado
em estabelecer esse convênio. Estou muito entusiasmado para exercer um trabalho
que nos é próprio, que é o da fiscalização”, disse d´Avila.
Para a procuradora Helenita
Acioli, será importante o apoio técnico do CFM. “O Ministério Público tem grande
preocupação com a defesa dos direitos fundamentais, entre eles o direito à vida
e à saúde. Penso que o acordo dará bons frutos no futuro”, afirmou.
* Com informações da Procuradoria
Geral da República.
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