Marina Lima
Disseram-me na época da eleição, não vote nela, o casal odeia médico. Sim, sou médico, sim, é muito pior do que todos nós imaginávamos. Senhora prefeita, não somos criminosos, não nos trate como tal. Somos profissionais essenciais na área da saúde, nos dedicamos a salvar vidas, investimos muito tempo e dinheiro no nosso aprendizado para praticar o bem ao próximo. São seis longos anos de faculdade em horário integral, seguidos de dois, três, quatro, às vezes cinco anos de especialização. São cursos e dedicação extrema em estudo para ingressar numa concorrida vaga de residência médica. É uma vida inteira de reciclagens, onde temos que nos virar para arranjar tempo para congressos, cursos de atualização, pós-graduação, mestrado, doutorado. É entrega! NOSSO TRABALHO TEM VALOR!
Não sei se trata-se de algum trauma passado ou algum grande problema pessoal, ou se é apenas uma tática política e populista de desviar a atenção do desarranjo na saúde, de transferir a culpa para quem não tem culpa, afinal somos mais uma vítima dos descasos com a saúde publica. O que mais nos pasma são os médicos que servem a essa administração pública e esquecem sua ética com os colegas, esquecem que tem filhos médicos ou futuros médicos, deixam de aproveitar sua atual posição para valorizar sua classe, para melhorar as condições de trabalho, os salários medíocres. Mas não, apenas repassam a política do MEDO, transferem para nós o terror que é imposto a eles. É lamentável assistir e participar disso.
Senhora prefeita, passe uma semana com um médico, tire um dia para acompanhar um medico em um plantão de 24 horas. Talvez assim a senhora entenda, ao menos, O NOSSO VALOR, como é necessária a paz em um ambiente de trabalho que já é muito pesado, o acolhimento, o respeito - estamos falando de SAÚDE. Talvez assim, tenha um pouco de compaixão, admiração, respeito por essa classe que tanto desdenha. Imagine a energia pesada de um hospital, onde enfermos padecem de doenças, onde vivenciamos a morte diariamente. Imagine isso acrescido de uma enorme parcela de terror, desrespeito, ameaças, proibições e imposições que dificultam nosso trabalho, que acabam com a nossa harmonia, que nos sobrecarregam em detrimento da qualidade do nosso trabalho. Imagine um ambiente de trabalho com todos, eu digo TODOS, insatisfeitos, indignados, revoltados com a conduta perseguidora, terrorista, desagregante.
Acredito que não é isso que esta em seus planos, acredito que saiba como se deve tratar um servidor publico. Somos seres humanos, senhora prefeita, não somos maquinas, temos necessidades fisiológicas como qualquer outro ser humano. Por que transformar-nos em inimigos, porque insiste em manter essa conduta desarmoniosa, porque não veste nossa camisa e sela a paz conosco, nos ouvindo, nos respeitando, nos acolhendo de forma participativa, somando esforços pelo melhor para saúde de nossa cidade.
Queremos reconhecimento pela grandiosidade de nosso trabalho, pela nossa dedicação, entrega. Queremos parceria, paz, melhorias para nós e para nossos pacientes. Queremos respeito pelo nosso trabalho, RECONHECIMENTO! Não, não somos criminosos, senhora prefeita, somos médicos assoberbados de trabalho, batalhadores, estudiosos, dedicados - FAZEMOS O BEM AO PROXIMO, TRABALHAMOS E ESTUDAMOS PARA ISSO!!!
Desperte enquanto há tempo! Crie aliados e não inimigos!! Infelizmente, sou mais uma vitma do medo e, apesar de vivermos em uma democracia, tenho que manter o anonimato de minhas declarações na intenção de evitar retaliações tão freqüentes a quem se digna a ter voz ativa. Tenho certeza que sou a voz de muitos colegas dessa cidade e peço a eles que recorram à Folha Online para se mobilizarem de forma ativa contra esse silencio velado pelo medo. Nossa união começa aqui.
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